Conto - Antigos Moradores.



Foi uma pechincha.
A imobiliária, sua proprietária,  a tinha reformado recentemente, dando-lhe pintura nova e tornando-a atrativa a qualquer comprador.
O corretor não lhe dissera muito sobre os antigos moradores, informara apenas que eles haviam tido alguns problemas judiciais e se viram obrigados a mudar de cidade.
Localizada em agradável bairro, a bela casa fora vendida por um preço bem abaixo do valor de mercado e Antonio acreditava ter tirado a sorte grande.
Vindo da cidade grande, o rapaz de meia idade não deu muita atenção aos desconfiados olhares da vizinhança, e nela se instalou planejando já abrir um negócio próprio na cidade.
Decidira dar adeus à vida de empregado e, naquela tranqüila cidade, planejava passar o resto da sua vida.
Passaram-se os dias e tudo corria de forma tranqüila. Antonio tentava transpor a aparente antipatia com a qual os moradores dos arredores tinham com ele, mas a tarefa não parecia ser nada fácil.
Talvez eles não estivessem acostumados com a presença de novos moradores. Gente do interior costuma ter essa desconfiança, mas ele acreditava que assim que abrisse sua sorveteria as coisas mudariam. O clima do lugar prometia fazer do seu empreendimento um sucesso.
Certa noite Antônio dormia tranquilo quando despertou com estranhos ruídos vindos da sala.
Aguçou os ouvidos na tentativa de verificar do que se tratava. Não acreditava que pudessem ser ladrões, pois a cidade era bastante pacata e resolveu esperar mais um pouco.
Ele se levantou assustado quando se deu conta de que risadas infantis vinham da sala.
Crianças? O que crianças estariam fazendo em sua casa num horário daquele?
Antonio, sorrateiramente, saiu do quarto e caminhou até a sala. Iluminadas pelo luar, algumas crianças estavam sentadas no meio do cômodo brincando alegremente.
-Mas o que é isso? – resmungou ele sem entender nada.
Ele acendeu a luz, mas os pequenos não lhe deram a menor atenção, prosseguindo com sua brincadeira.
-Ei! O que vocês estão fazendo aqui? – gritou ele enraivecido.
Foi então que as crianças se levantaram assustadas e o olharam com pavor.
Mas o sentimento delas em nada se assemelhou com o que acometeu Antonio, ao perceber suas feições deformadas.
-O que é isso? Quem são vocês? Saiam da minha casa! – ele gritou apavorado.
-Vem brincar com a gente, tio. – o inocente olhar o encantador sorriso dos pequenos contrastava com suas faces dilaceradas.
Antônio correu do local e saiu pela porta dos fundos, indo bater na casa do vizinho.
Assustados eles o acolheram e serviram um copo de água com açúcar. Demorou alguns instantes até que ele conseguisse falar.
-Até que demorou pra isso acontecer... – resmungou o senhor para sua esposa, que o repreendeu.
-Crianças. Deus! Crianças horríveis estão na minha casa! O que elas estão fazendo lá? Quem são elas? – ele gritava transtornado.
O casal apenas o olhava, compadecido, e logo o senhor fez um telefonema.
Não demorou muito e uma ambulância veio buscar Antônio, levando-o embora.
-Claro que o maldito vendedor não contou pra ele que a casa, antes, era uma clandestina clínica de abortos... – resmungou, mais uma vez, o senhor.


Um comentário:

  1. hahahaah muiitoooo bommm!!!!
    Eu percebi que vc tem uma queda por casas, construções e afins... Eu também adoro...
    Parabéns. Mais um conto ótimo!

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