Conforme prometido, iniciarei as publicações dos contos que estava selecionando e escrevendo para meu novo livro, irei marcá-los como "Relatos Macabros", para diferenciá-los tanto dos demais contos presentes no blog.
O primeiro conto que publicarei foi inspirado em um relato que uma antiga colega de trabalhou me contou. Se é verídico ou não, só ela pode dizer, mas é apavorante.
Para quem, por algum motivo, não conhece a história do Edifício Joelma, sugiro que leia o texto na Wikipédia.
Fiquei
muito feliz ao ser contratada para trabalhar como recepcionista naquele
escritório de advocacia. Foi a “luz no fim do túnel” que surgiu em minha vida.
Meu marido adoecera gravemente e tive que
retornar ao mercado de trabalho, após cinco anos de casada e com dois filhos
pequenos.
O
escritório ficava no penúltimo andar do Edifício Praça da Bandeira, bem no
coração da cidade de São Paulo.
Ganhava
razoavelmente bem, o trabalho era agradável, o local era de fácil acesso e a
vista que eu tinha da ampla janela para o Vale do Anhangabaú me fazia esquecer
um pouco dos problemas.
Só
depois de algumas semanas vim a descobrir que o antigo nome daquele prédio era Edifício
Joelma. Sim, aquele que foi assolado por um terrível incêndio em 1974 onde 187
pessoas morreram.
Volta
e meia o assunto sempre surgia, tanto pelos que visitavam o escritório e se
sentiam incomodados com o histórico do local como pelas pessoas que ali trabalhavam.
Era
como se toda a dor daqueles que ali pereceram impregnasse a atmosfera do local.
Eu
era pequena na época do ocorrido e por isso não identifiquei o local de
imediato. E mesmo que conhecesse a história dele não poderia me dar ao luxo de
recusar o trabalho.
Claro
que fiquei incomodada, principalmente pelas lendas que circulavam: diziam que
espíritos frequentemente podiam ser vistos por ali e que às vezes ouviam-se
gritos de dor ou de socorro.
Mas
como nunca acreditei muito em histórias de fantasmas preferi não dar atenção ao
que as pessoas diziam, até mesmo porque nunca tinha presenciado nada de anormal
ali, e prossegui trabalhando.
Porém
chegou um dia em que tudo mudou.
Eu
e minha amiga Tamires, secretária de um dos advogados do escritório,
retornávamos do almoço por volta das treze horas e tomamos o elevador para
subirmos até o vigésimo quarto andar, onde trabalhávamos. Conosco subiram mais
algumas pessoas, como de costume.
O
elevador estava mais cheio que o normal porque o outro estava quebrado desde o
dia anterior e a manutenção, segundo o porteiro, seria feita naquela noite.
Durante
a subida quase todos desceram e acabamos ficando apenas eu, minha amiga, uma
moça que desconhecíamos e a ascensorista, dona Rosa, que já trabalhava ali há
vários anos.
Estranhamos
um incomum cheiro de queimado dentro do elevador e surgiu então entre eu,
Tamires e Dona Rosa o assunto dos fantasmas que, conforme diziam, assombravam o
lugar. Minha amiga brincou dizendo que jamais trabalharia ali no período
noturno. A ascensorista deu graças a Deus por sair às dezoito horas e não ter
que ficar ali de noite. Em tom de brincadeira eu disse: “Nossa, eu não fico de
noite nesse prédio nem morta”.
Demos
muitas risadas porque na verdade nenhuma de nós nunca levou a sério aquelas
histórias.
Foi
quando a desconhecida mulher rompeu o silêncio que mantinha até então e disse
friamente: “Sou obrigada a ficar, mas quem pode garantir que eu esteja viva?”.
Um
arrepio me subiu pela espinha e imediatamente todas nós nos calamos. Quando o
elevador chegou ao vigésimo terceiro andar a estranha mulher lentamente saiu.
Assim
que o elevador prosseguiu até o andar seguinte Dona Rosa disse: “Por Jesus, que
mulher esquisita, nunca vi ela por aqui.”
Eu
e minha amiga nos olhamos, ela fez o sinal da cruz, e seguimos para o
escritório.
Aquilo
ficou na minha cabeça durante toda a tarde. Podia ter sido uma brincadeira daquela
mulher esquisita, e se fosse, era de péssimo gosto. Nenhuma de nós a conhecia
então não havia intimidade alguma entre nós para que ela brincasse daquele
jeito. E se não fosse brincadeira? E se fosse verdade? Nunca! Pra mim essas
histórias de fantasmas sempre foram coisa de gente desocupada, nunca acreditei
nessas coisas.
Mas
aquilo permaneceria na minha lembrança até hoje. Na hora de ir embora e tomar o
elevador, encontramos Dona Rosa, sempre tão simpática, visivelmente perturbada. Eu
e Tamires quisemos saber o que ela tinha, foi quando ela disse: “Todo o pessoal
do vigésimo terceiro já foi embora, e aquela mulher esquisita não desceu
comigo...
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