Conto - O Filho Roubado.

contos de terror


O Filho Roubado

Baseado em uma história real...


O que vou contar agora aconteceu no ano de 1977, quando eu tinha vinte e oito anos e morava na cidade de Mongaguá, no litoral do estado de São Paulo.

Eu e minha esposa Irene estávamos casados há um ano e meio e ela esperava nosso primeiro filho, estando já no terceiro mês de gestação.

Estávamos muito felizes, eu tinha um ótimo emprego, já tínhamos nossa casa própria e a chegada do primeiro filho coroaria uma vida feliz e harmoniosa.

Naquela manhã havíamos visitado o consultório do doutor Vidigal, famoso obstetra da cidade de Santos que conferiu os exames e constatou que a gravidez transcorria normalmente.

A vida corria leve e tranquila, porém, o que aconteceria naquela mesma noite não apenas mudaria nossas vidas, mas também colocaria em xeque todas as crenças que tínhamos até então.

Era uma sexta-feira, Irene tinha ido se deitar cedo, como de costume, e eu tinha ficado assistindo televisão até um pouco mais tarde porque não trabalhava nos finais de semana.

Fui me deitar por volta das duas da madrugada, a noite estava quente, mas a maresia que entrava pela janela do quarto amenizava o calor.

Dormíamos tranquilamente quando fomos acordados por um forte e estridente zumbido, e ao abrirmos os olhos nos deparamos com uma fortíssima luz branca que entrava pela janela.

Segurei a mão de Irene, que gritava, assustada com tudo aquilo.

A princípio imaginei se tratar dos faróis de um caminhão ou de um ônibus, por mais absurda que a ideia pudesse ser, mas nada poderia ser tão absurdo quanto o que se seguiria.

Ofuscados, mal conseguíamos olhar para a janela, mas pudemos perceber pequenos vultos entrando por ela.

Não eram grandes, deviam ter por volta de um metro e sessenta e era difícil vê-los direito por causa da luz.

Calmamente eles se posicionaram, os três, ao redor da nossa cama e ficaram nos observando por alguns segundos.

Estávamos aterrorizados e antes que eu pudesse fazer alguma coisa ouvi um forte estrondo e tudo se apagou.

Não sei por quanto tempo permaneci inerte, mas despertei em um lugar estranho.

Eu só conseguia mexer a cabeça e pude ver, à minha esquerda, minha esposa, inconsciente, deitada em uma escura maca metálica, provavelmente igual a onde eu estava.

O lugar parecia enorme, mas era escuro. A única iluminação vinha por detrás da minha cabeça, mas não tive muito tempo para analisar aquele lugar porque logo duas criaturas, aparentemente semelhantes àquelas que estavam no nosso quarto, apareceram e se posicionaram aos pés da minha esposa.

O que elas iriam fazer?

As criaturas colocaram Irene numa posição semelhante àquela em que as mulheres ficam quando vão dar à luz, ou fazer exames ginecológicos.

Nesse instante ela despertou e pude ver o horror estampado em seus olhos.

Irene parecia querer gritar, mas não conseguia, apenas lágrimas escorriam pela face dela. Sua boca estava escancarada, mas nenhum som era ouvido.

Tentei me levantar, gritar, fazer algo para impedir o que quer que aquelas coisas estivessem fazendo, mas foi em vão.

Assim como minha esposa, eu estava paralisado.

Não demorou muito e um dos seres se afastou com algo nas mãos, mas não pude ver o que era, embora eu pudesse fazer uma ideia, mesmo me recusando a aceitar tal hipótese.

Uma terceira criatura se juntou àquela que ainda permanecia junto de nós e posicionaram-se aos meus pés.

Aparentemente me examinavam, eu não conseguia vê-las, eu nada sentia.

As criaturas ficaram ali por alguns minutos até que finalmente foram embora.

Fiquei olhando para Irene, cujos olhos ainda derramavam lágrimas, sem saber o que seria feito de nós.

Depois disso não me lembro de mais nada, só de acordar de manhã com minha esposa me chamando, aos prantos, ao perceber que a roupa de cama estava suja de sangue.

Imediatamente fomos ao pronto-socorro próximo sem sequer termos tempo de conjecturar se aquilo tudo tinha sido um sonho ou realidade.

Acreditávamos que minha esposa estivesse abortando, mas ficamos atônitos quando a médica nos informou não ser esse o caso, que minha esposa não perdera nenhum bebê.

Ela sequer estivera grávida.

Como era possível?

No dia anterior tínhamos ido ao obstetra!

Ligamos para o doutor Vidigal e o informamos sobre o ocorrido e ele prontamente nos disse para irmos ao consultório dele.

Porém, o que ele constatou definitivamente era inacreditável: o útero da minha esposa estava completamente limpo, sem nenhum sinal que indicasse que ela estivera grávida, muito menos sofrido um aborto.

Nós três ficamos nos olhando sem entender nada daquilo.

Irene havia feito diversos exames, havia inclusive um ultrassom que comprovava sua gravidez...

Me lembrei então dos fatos que até aquele momento eu julgava terem sido apenas um pesadelo.

Ao relatar o ocorrido me dei conta que minha esposa tinha “sonhado” com a mesma coisa.

Doutor Vidigal ficou perplexo e, se ele mesmo não fosse testemunha da gravidez da minha esposa, jamais teria acreditado naquela história toda.

Voltamos para casa em silêncio, sem saber em que pensar ou no que acreditar.

Seguimos a vida, absortos em nossos pensamentos, e só tocamos novamente naquele assunto doloroso e incompreensível após várias semanas.

Nosso bebê havia sido tirado de nós por criaturas alienígenas, mas quem acreditaria, com exceção do doutor Vidigal, na nossa história?

Por que fizeram aquilo? O que teria sido feito do nosso bebê?

Com o tempo a dor se amenizou, mas o fato jamais foi esquecido.

A vida transcorria normalmente e após três anos até já pensávamos em ter outro bebê, quando outro fato desconcertante aconteceu.

Estávamos dormindo, naquela noite eu e Irene fomos deitar juntos, quando acordei mais uma vez com aquela ofuscante luz vindo da janela.

Olhei para o lado e vi que minha esposa continuava dormindo.

Dessa vez ninguém entrou pela janela e, após um fortíssimo e estridente zumbido, eu fui transportado para outro local.

Mas daquela vez eu não estava preso à uma maca, estava em pé, em um corredor escuro, movimentando-me normalmente.

Estava frio e a única luz presente era a que vinha do final do corredor, o outro lado era completamente escuro.

Antes que eu pudesse decidir o que fazer vi dois vultos vindo da direção da luz, em minha direção.

Conforme se aproximavam eu percebi que não eram nenhuma daquelas criaturas pequenas, os alienígenas, mas sim uma mulher e uma criança.

Elas calmamente chegaram perto de mim e enquanto a mulher me observava a pequena menina me estendeu a mãozinha.

Eu segurei sua pequenina mão e imediatamente senti uma forte ligação com aquela criança, que deveria ter por volta de três anos.

Olhei para ela, olhei para a mulher loira que a acompanhava e notei que havia algo estranho em suas feições.

A pele delas era extremamente branca, de aparência leitosa, tinham olhos grandes, azulados, maçãs do rosto bem pronunciadas e um rosto que se afinava até terminar em um queixo fino e pontudo.

A mulher tinha cabelos longos, ondulados, tão loiros que quase chegavam a ser brancos, e media por volta de um metro e setenta de altura, bem magra.

Na criança essas características eram menos acentuadas, mas também presentes, porém sua aparência estranhamente me era familiar.

Fiquei olhando-as, principalmente para aquela criança que esboçava um inocente sorriso, até ela soltar minha mão, segurar novamente na daquela mulher e ambas seguirem de volta para a luz, onde desapareceram.

Uma estranha sensação de leveza e paz tomou conta de mim, como se um peso fosse retirado do meu coração, e após uma espécie de choque eu apaguei.

Acordei na manhã seguinte. Minha esposa já preparava o desjejum e não se lembrava de ter vivenciado nada de diferente durante aquela noite.

Contei à ela o que tinha acontecido, sem saber se tinha ou não sido verdade.

Seria aquela menina o bebê que há alguns anos fora tirado de nós? Por que só a mostraram para mim?

São perguntas para as quais dificilmente teremos as respostas.

Hoje, após tantos anos, temos três filhos já adultos e netos e nunca mais vivenciamos algo semelhante e só agora estou relatando esses fatos que marcaram para sempre tanto a minha vida quanto a da minha esposa.

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Yves Thorn

Biografia

Yves Thorn - Formado em História pela PUC-RS possui obras que são fruto de pesquisas realizadas acerca de locais assombrados no Brasil e no mundo.
Também se dedica ao estudo de casos ufológicos e está preparando obras sobre o assunto.
Lançou, ainda, quatro trabalhos baseados em traduções de clássicos do horror mundial: Edgar Allan Poe e Howard Phillips Lovecraft.
Página Oficial: http://yvesthornwriter.wix.com/books
E-mail de contato: yvesthornwriter@gmail.com


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